Se você corre pelas ruas de São Paulo ou em outras grandes cidades do Brasil, provavelmente já cruzou com um grupo barulhento, colorido, cheio de gente sorrindo, música rolando e aquela energia de “balada saudável” numa noite de terça-feira. Em vez de mesa de bar, as pessoas se encontram para correr. Ao invés de dress code, tênis de corrida. Em vez de fila na porta, aquecimento na calçada.

Esses grupos são as Running Crews – um movimento que cresceu muito nos últimos anos em grandes capitais do mundo e encontrou em São Paulo um terreno fértil: cidade grande, gente estressada, poucos espaços de convivência e muita vontade de se movimentar.

Mas, afinal, o que é uma Running Crew? Como elas se diferenciam de uma assessoria de corrida tradicional? E, principalmente, é melhor escolher uma crew ou uma assessoria?

Neste texto, vamos olhar para as duas realidades e mostrando por que as crews são incríveis para a comunidade e, ao mesmo tempo, não substituem o trabalho personalizado de uma assessoria de corrida.

O que é uma Running Crew?

De forma simples, uma Running Crew é um coletivo de corrida. Geralmente nasce de um grupo de amigos que começa a correr junto e vai atraindo mais pessoas. Com o tempo, esse grupo cresce, cria um nome, um visual próprio, um lema e passa a organizar treinos e encontros abertos ao público. Atualmente existem diversas crews num formato muito profissional, com eventos e grandes marcas parceiras.

O foco principal das crews costuma ser:

• Comunidade
• Pertencimento
• Estilo de vida
• Explorar a cidade correndo
• Conexão entre pessoas, música e cultura urbana

Muitas crews surgem sem a intenção de serem um “serviço esportivo estruturado”. Elas são, antes de tudo, um movimento cultural dentro da corrida. É comum ver:

• DJ tocando durante o aquecimento;
• Pós-treino em bar, café ou cervejaria;
• Collabs com marcas de moda, arte ou música;
• Eventos especiais em datas comemorativas.

Exemplos de Running Crews em São Paulo

São Paulo vive hoje um verdadeiro “ecossistema” de crews. Só para citar algumas:

1. Vem Com Nóis Running Crew (VCN)

Um dos coletivos mais conhecidos da cidade, o Vem Com Nóis surgiu como um grupo de amigos e se consolidou como uma das primeiras running crews da capital paulista. Ao longo dos anos, o VCN esteve conectado a grandes marcas esportivas, como Nike e Adidas, e ajudou a transformar a Av. Paulista em ponto de encontro para quem queria correr, se divertir e fazer amigos.(Vem com Nóis)

Hoje, além da crew aberta, o projeto também deu origem a uma assessoria estruturada (VCN Club), mostrando justamente como a cultura de crew pode evoluir para um serviço mais personalizado.

2. Let’s Hop Running Crew

O Let’s Hop Running Crew é um grupo democrático que organiza encontros em diferentes bairros de São Paulo, como Penha, Tatuapé, Mooca, Santa Cecília, Barra Funda, Pompeia e outros. A proposta é unir atividade física e confraternização: depois do corre, sempre rola aquele momento social, com cerveja ou refrigerante para a galera relaxar e conversar.

É um ótimo exemplo de como a corrida pode ser porta de entrada para novos amigos e novas experiências, sem clima competitivo.

3. PRJCT Runners Crew

O PRJCT Runners Crew nasceu também com apoio da Nike e representa bem o espírito das crews modernas: comunidade, diversidade e ocupação da cidade. Com treinos gratuitos e abertos, divulga sua agenda principalmente pelas redes sociais e costuma atrair corredores de diferentes níveis – do iniciante curiosos até quem já corre provas regulares.

Além dessas, ainda existem outros coletivos como Seven Runners Crew, Inimigos do Pace, Run & Bass, entre vários outros, que ajudam a espalhar a ideia de que correr pode ser algo social, divertido e muito mais leve do que parece à primeira vista.

Por que as Running Crews conquistaram tanta gente?

Não é difícil entender por que as crews ganharam espaço tão rápido.

1. Baixa barreira de entrada

Em geral:

• Os treinos são gratuitos ou de baixo custo;
• Basta acompanhar a crew no Instagram ou no WhatsApp;
• Não há grande burocracia para “entrar”.

Isso é perfeito para quem:

• Quer começar a correr sem compromisso;
• Sente vergonha de treinar sozinho;
• Não se vê em ambientes muito “técnicos” ou formais.

2. Clima zero julgamento

A vibe das crews costuma ser:

• “Chega do jeito que você está”;
• “Não importa o pace, importa estar junto”;
• “Hoje você corre, amanhã caminha, o importante é aparecer”.

Para quem olha a corrida de longe e acha que “não é para mim”, esse acolhimento faz toda a diferença.

3. Experiência, não só treino

Muita gente não está buscando apenas melhorar pace ou bater recorde pessoal. Quer:

• Conhecer novos lugares da cidade;
• Ouvir música;
• Ter um momento da semana que seja “seu”.

As crews entregam exatamente isso: experiência. O treino vira um evento.

Onde entram as Assessorias de Corrida?

Se a running crew é um coletivo social de corrida, a assessoria é um serviço estruturado.

Uma assessoria de corrida tem como foco principal:

• Planejamento sistemático de treinos;
• Personalização por nível, objetivo e histórico;
• Evolução controlada de volume e intensidade;
• Acompanhamento técnico de perto;
• Apoio em provas e eventos específicos de corrida de rua;

Na prática, isso significa:

• Planilha estruturada por semanas e ciclos;
• Controle de carga (volume, intensidade, frequência);
• Orientação para provas específicas (5 km, 10 km, meia, maratona);
• Feedback regular sobre execução dos treinos;
• Suporte em outras áreas (força, mobilidade, prevenção de lesão);

Enquanto a crew se preocupa em conectar pessoas, a assessoria tem a missão de conduzir o corredor com segurança e estratégia do ponto A ao ponto B – seja esse ponto um primeiro 5 km correndo direto ou uma maratona.

Principais diferenças entre Running Crew e Assessoria de Corrida

Vamos organizar essas diferenças de forma direta.

1. Objetivo principal

• Running Crew:
  Comunidade, pertencimento, prazer em correr junto, estilo de vida, ocupação da cidade, experiência social.
• Assessoria de corrida:
  Evolução esportiva, melhoria de performance, constância, preparação para provas, estrutura e segurança no processo de treino.

2. Personalização

• Running Crew:
  Em geral, os treinos são pensados para atender um grupo grande e heterogêneo.
  Existem variações de pace, divisões em pelotões e, às vezes, alguma orientação básica de treinador ou pacer. Mas não é um trabalho individualizado.
• Assessoria de corrida:
  A planilha é feita (ou ajustada) para o indivíduo.
  Leva em conta:
  • Histórico esportivo,
  • Limitações físicas,
  • Rotina de trabalho,
  • Disponibilidade de dias úteis para treinar,
  • Objetivos específicos (tempo-alvo, distância, prova).

  Aqui, cada corredor segue um plano próprio dentro de uma lógica de periodização.

3. Estrutura de acompanhamento

• Running Crew:
  • Horários e locais de treino pré-definidos;
  • Comunicação principalmente via redes sociais;
  • Presença forte em eventos de rua, festivais, provas e ações com marcas;
  • Feedback técnico pontual, quando há educadores físicos envolvidos, mas sem construção de histórico individual detalhado.
• Assessoria de corrida:
  • Acompanhamento contínuo por aplicativos, planilhas ou plataformas de treino;
  • Registro de treinos, ajustes semanais ou mensais;
  • Comunicação direta com o treinador (mensagens, reuniões, feedbacks).

4. Compromisso com o processo

• Running Crew:
  Você pode aparecer quando quiser. Não existe “faltar treino” – existe só não ir naquele dia. É leve, solto e isso é parte do charme.
• Assessoria:
  Há um compromisso maior com a regularidade. Mesmo que você não seja “cobrado” de forma rígida, existe um plano montado, metas e uma certa responsabilidade com aquilo que você se propôs a fazer.

5. Perfil de quem procura

• Running Crew:
  • Iniciantes curiosos;
  • Quem tem medo de entrar em uma assessoria sem saber “se vai dar conta”;
  • Corredores que já treinam com planilha, mas querem um ambiente social extra.
• Assessoria de corrida:
  • Quem quer evoluir com método;
  • Quem busca provas específicas;
  • Quem já entendeu que é preciso cuidar de volume, intensidade e recuperação;
  • Pessoas que já se machucaram por falta de método e querem organizar melhor essa parte
  • Corredores que já estão em crew e agora querem um passo a mais na performance.

As vantagens reais de uma Running Crew

Mesmo entendendo as limitações de personalização, é importante destacar que as crews têm um papel essencial na formação e manutenção da comunidade da corrida.

Alguns pontos fortes:

1. Porta de entrada para o esporte
   Muita gente que hoje corre 10 km, meia maratona ou maratona começou tímida em um treino de crew, achando que “não ia aguentar nada”. A experiência positiva no primeiro dia faz a pessoa voltar.
2. Motivação social
   Saber que vai encontrar amigos torna muito mais fácil sair de casa num dia de preguiça. Em crew, você sente que faz falta no grupo, que é parte de algo maior.
3. Quebra da imagem “quadrada” da corrida
   Corrida não precisa ser só relógio, planilha e prova dominical. Pode ser música, grafite, cerveja pós-treino, ocupação da rua. As crews trazem esse lado mais cultural e menos engessado.
4. Acolhimento da diversidade
   Muitas crews têm discurso forte de inclusão: de corpos, de estilos, de orientações, de histórias. Isso é fundamental em uma cidade grande, onde é fácil se sentir isolado mesmo no meio da multidão.

Onde as Running Crews geralmente NÃO chegam

Aqui entra o ponto que é importante deixar claro sem desmerecer as crews.

Na prática, a maioria dos coletivos não oferece:

• Periodização individual de treinos,
• Controle de carga (volume/intensidade) ao longo dos meses,
• Análise sistemática de evolução,
• Orientação específica para lesões, histórico clínico ou limitações,
• Preparação minuciosa para uma prova-alvo (tempo específico, estratégia de ritmo, nutrição na prova etc.).

Isso não é um defeito. É apenas outro objetivo.

As crews não nasceram para substituir o trabalho de uma assessoria esportiva. Elas surgiram para complementar a experiência da corrida e aproximar mais pessoas desse universo.

Quando vale considerar migrar ou somar com uma assessoria?

Se você já corre com uma crew e:

• Quer fazer sua primeira prova de 5 km correndo direto,
• Sonha com uma Meia Maratona ou Maratona;
• Quer melhorar seu tempo em determinada distância,
• Está se lesionando com frequência;
• Sente que evoluiu até certo ponto, mas travou…

… é um forte sinal de que a assessoria de corrida pode ser o próximo passo natural.

Na assessoria, você vai encontrar:

• Um profissional olhando para o seu caso específico;
• Plano de treinos coerente com a sua rotina;
• Ajuste de volume e intensidade ao longo das semanas;
• Orientação mais aprofundada sobre descanso, fortalecimento, prova-alvo;
• Segurança para aumentar distâncias sem “ir na emoção”.

E nada impede que você continue participando da sua crew para treinos sociais, eventos especiais e corridas que sejam mais pela diversão do que pelo desempenho.

Assessoria X Running Crew: não é “ou”, é “e”

Se tem uma mensagem importante para fechar este texto, é esta:

Running Crews e Assessorias de Corrida não são rivais. Elas ocupam espaços diferentes dentro da mesma paixão: correr.

Muita gente vai começar em uma crew, se sentir parte da comunidade, ganhar confiança, melhorar um pouco e depois buscar uma assessoria para dar o próximo passo. Outros vão fazer o caminho inverso: já treinam com assessoria e encontram nas crews um espaço de diversão, novas amizades e respiro da rotina.

No fim das contas, o mais importante é entender que:

• As crews são um complemento poderoso na jornada do corredor;
• Podem ser, sim, uma etapa natural de entrada antes de se comprometer com um processo mais estruturado como o de uma assessoria.

Se você está em dúvida por onde começar, talvez a melhor resposta seja simples:

• Comece aparecendo em um treino de crew.
• Quando sentir que a corrida já faz parte de quem você é, busque uma assessoria para te levar ainda mais longe.

A cidade é grande, as possibilidades também. O asfalto está aí e tem espaço para crews, assessorias e, principalmente, para a sua história como corredor.